quarta-feira, 30 de abril de 2008
Muitos dizem:
- A minha vida dava um filme...
A minha lógica da vida apenas me permite dizer: - A minha vida dava 1/4 de filme e pouco mais que uma autobiografia...
Para uma pessoa que apenas 1/4 de século não há muito que possa dizer a não ser uma breve explicação de uma vida simples e sem complexos com alguns entraves pelo meio. Este Blog relata alguns momentos que considero importantes na minha vida pessoal assim como pessoas, objectos ou momentos especiais que mudaram este 1/4 de século não esquecendo claro o meu permaturo percurso profissional...
A minha infância …
Para um miúdo que nasceu com 1,400gramas que ouve a mãe, a avó e a tia sim porque há sempre uma tia, a repeti-lo constantemente bem me posso gabar da minha constituição física neste momento, um armário com 1,84m e 90kg, sim 90kg leu bem.
Até aos meus oito anos não há nada de que me recorde a não ser o nascimento do meu irmão, naquela altura tudo era uma incógnita e para mim o bebes vinham de um sitio qualquer e não da barriga mãe, pelo menos era isso que queria dar a entender. No dia que vi os meus pais entrarem pela casa dentro com um puto chorão nos braços disse para mim quase de certeza:
- Onde foram buscar este miúdo?
- Será que não havia nada por lá mais bonito e menos corado? Parece que saiu de um mergulho náutico feito dentro de um pipo de maduro tinto.
Claro que não foi isso que disse nem pensei o meu mano até era muito giro pelo menos é o que dá para ver nas fotos, mas era o que dizia hoje quase de certeza…
O momento que me marcou foi no dia vinte e poucos de Agosto, alguns dias depois do aniversário do meu irmão (20 de Agosto) foi o facto de o pegar no colo e ouvir a minha mãe repetidamente a dizer,
- Cuidado não deixes cair cuidado…
Foi mais ou menos por esta idade que comecei a acompanhar o meu pai que se dizia de biscateiro de electricidade, o Sr. Sousa ou o Manel Nabiça como é conhecido, o meu pai desde cedo, aos fim de semana que me fazia levantar da cama, fora de horas para que o fosse ajudar na dita biscatada, a chegar ferramentas ou pequenos utensílios e a carregar malas de ferramenta, sim a carregar, pois como a vida era e é difícil não havia veiculo próprio, havia sim as nossas pernas ou o autocarro que nos levava de paragem em paragem e para azar o meu os clientes do meu pai eram sempre por zonas onde nunca tinha passo Cristo, ruas escuras, escorregadias, onde não faltavam degraus e musgo pronto a receber o nosso pé para limpássemos o chão com o rabo.
Bem mas eu estou para aqui a lamentar, mas não quero que interpretem este ultimo parágrafo como uma critica a educação debitada pelo meu pai, mas sim como uma forma de descrever como diz o povo:
“Deus escreve direito por linhas tortas, quer isto dizer que… “
Graças ao meu pai hoje posso dizer que não tenho medo de enfrentar a vida profissional ou pessoal (…).
…no meu maior desafio…
Mas foi no dia do meu nono aniversário que tive o maior desafio da minha vida.
Foi-me diagnosticado um tumor cancerígeno nos intestinos, sendo operado de urgência no dia 13, Novembro de 1990 dia do meu aniversário vejam lá…
A partir desse dia passei a ver as coisas com outros olhos, com mais rancor, com menos liberdade. Pois nos dois anos seguintes vivi momentos de dificuldade, angustia, por saber mesmo com aquela idade que a qualquer momento poderia passar de um ser vivo a um ser não vivo, pelo menos era assim que era explicado na escola, e acreditem que não eram os brinquedos que recebia da família enquanto estava fechado dentro de quatro paredes naquele hospital frio gélido e cheios de gemidos.
Os tempos vividos entre o hospital de gaia onde fui operado e o IPO onde fiz os tratamentos e exames e mais exames onde já perdi a conta a quantidade e ao tipo.
Na altura havia palavras que repetia vezes sem fim e ainda hoje não só eu mas muita gente procura no infinito a resposta a esta questão:
- Porquê a mim?
Até que por volta dos doze anos a minha mãe foi informada que o maior risco tinha passo, sim a minha mãe, não pensem que me esqueci desta maravilhosa senhora que me pôs no mundo, pois enquanto que o meu pai trabalhava noite e dia para não faltar pão e casa e os medicamentos que eram preciosos para a minha recuperação, esta senhora dormia em salas de espera, cadeiras desconfortáveis, onde faltava uma refeição decente e o mínimo de conforto para que pelo menos não me queixa-se de falta de mimos.
Tenho a certeza que foi a soma do acreditar da minha mãe com o meu acreditar que fez com que a minha recuperação tivesse um fim feliz.
Nos dias de hoje há umas palavras que repito vezes sem fim e sempre que a conversa vem ao de cima:
- Considero-me uma pessoa cheia de sorte… pois vi miúdos como eu, que não chegaram aos dias de hoje … era-mos doze numa só sala e apenas dois sobrevivemos…
Nessa tenra idade calhou-me a lotaria e não, não fui contemplado com alguns milhões de contos mas sim com a vontade de viver e tirar partido e sabedoria desta minha aventura.
…durante a minha adolescência…
Esta fase, é claro aquela em que as memorias são mais recentes e frescas, é também nesta fase que vivemos sentimentos e momentos que nunca se irão perder.
Estava eu no início da minha puberdade com os meus treze aninhos quando iniciei o sétimo ano de escolaridade. Até aqui tudo bem, sem não fosse o facto deste ser o inicio de algumas aventuras e peripécias vividas na Escola secundária de Oliveira do Douro.
Agora imaginem um puto, com treze anos, na turma do 7 C, uma turma em que metades dos alunos eram repetentes, dois anos mais velhos e com o dobro da minha perspicácia e esperteza. É claro que numa vida em que só vencem os mais fortes (pelo menos era a conclusão que tirava dos filmes do Rambo) eu teria de me juntar aos que criavam confusão e dai tirar ideias para desespero dos meus presentes e futuros professores.
Eu, um puto que dizia e gabavam de calminho e não conflituoso era na realidade insurrecto, traquina, alguém que procurava encaixar na classe social do chamado fixe lá da escola.
Umas das muitas peripécias que ficou assinalado na minha memoria na qual hoje não guardo orgulho, foi quando me dirigi á minha professora de Francês e lhe disse que a atirava pela janela fora após me ter proibido de jogar á sueca em plena aula. Por isso não fico nada admirado quando vejo na televisão mais uma professora agredida, bem pelo menos eu não digo como a miúda da secundária Micaela:
-“Dá-me o telemóvel jááááá…”.
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